Dáry Bezerra, presidenta do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), pontua que o volume de casos de violência contra a população LGBT só poderá ser reduzido a partir de esforços para promover mudanças culturais na sociedade. A declaração foi dada na manhã desta quarta-feira (25), em entrevista exclusiva aos jornalistas Katiúzia Rios e Miguel Anderson Costa, no programa Balanço Geral Ceará Manhã, da TV Cidade Fortaleza.
O Ceará, ao longo dos últimos anos, consistentemente aparece entre os estados com os maiores números de violência contra essa população. A edição do ano passado do Anuário Brasileiro da Segurança Pública registrou que, em 2023, o estado liderou o ranking nacional de homicídios contra pessoas LGBTQIA+, pelo terceiro ano consecutivo.
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Dáry ressalta que, apesar de avanços no campo das políticas públicas, como a criação da Secretaria da Diversidade no Ceará e da Coordenadoria da Diversidade em Fortaleza, ainda há muito a ser feito para garantir direitos e segurança. A presidenta do Grab aponta que a superação da violência exige mudanças profundas na sociedade, incluindo nos âmbitos da educação e da formação no ambiente familiar. “Tem que ser junto: sociedade tem que atuar e governo, segurança precisa atuar também nesse campo, para que a gente possa sair desse top tão horrível”, declarou.
Dáry destacou ainda a importância de denunciar casos de homofobia e transfobia, lembrando que, desde 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou esses crimes ao racismo. “Todo mundo tem direito de denunciar na delegacia, procurar o Centro de Referência”, orientou. Ela citou os centros de referência Thina Rodrigues e Janaína Dutra como espaços de acolhimento e apoio às vítimas, sob responsabilidade do Governo do Estado e da Prefeitura de Fortaleza, respectivamente, além do trabalho de orientação realizado pelo próprio Grab.
Envelhecimento
Ela ainda ressaltou a importância de pautar o direito da população LGBT de envelhecer no estado do Ceará. Esse foi o tema escolhido para a Parada da Diversidade Sexual do Ceará, que é organizada pelo Grab e acontece em Fortaleza, no próximo domingo (29).
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Segundo Dáry, o tema deste ano – “Quem chora por nós? Visibilidades, orgulho e direito de envelhecer” – foi inspirado em uma frase da ativista Thina Rodrigues, homenageada na edição. “Quem chora por nós é uma frase que ela dizia para incomodar. Quem, além das próprias populações LGBT, se importa conosco nessa sociedade?”
A dirigente lembrou que, apesar dos avanços, pessoas trans e travestis ainda enfrentam expectativa de vida muito inferior à média nacional. “Pessoas travestis e transexuais têm 35 anos de expectativa de vida. Se a gente é uma população privada da educação, saúde, direitos básicos, como chega na velhice? Será que tem previdência privada, há lugar para morar? Muitas são expulsas de casa, não têm acolhimento familiar, vão morar onde?”, questionou Dáry. Ela também ressaltou o desafio da solidão: “muitas não têm filhos, muitas não têm companheiros ou companheiras. Então trazer essa temática do envelhecimento é sobretudo pensar as nossas próprias vidas, porque a gente é jovem, mas daqui a pouco a idade vai chegando”.
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Madrinhas
A edição deste ano também celebra a representatividade de duas madrinhas travestis negras, Labelle Rainbow e Viviane Venâncio – que, como destaca a presidenta do Grab, conseguiram superar essa estimativa de vida. “Isso é muito importante para a gente estar celebrando. É muito significativo, simbólico, emocionante”, afirmou. A escolha das madrinhas ocorreu durante as discussões sobre o tema da edição e reconhece as contribuições históricas de ambas para a construção do evento e da militância trans no estado.
Trielétrica
A jornalista Katiúzia Rios, madrinha de edições anteriores da Parada, também marcará presença em 2025 de forma especial: comandará um dos trios elétricos, a Trielétrica, com estrutura própria, convidados especiais e uma programação que vai mesclar manifestações políticas com atrações musicais.
Até agora, oito trios elétricos estão confirmados, reunindo artistas, coletivos culturais e instituições. Entre os parceiros, estão o Governo do Estado do Ceará, Prefeitura de Fortaleza, Parada na Delas, Instituto Saile, Casa de Andaluzia, Fetamce, Trielétrica, além do próprio Grab.
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Fonte: gcmais.com.br