O açaí, fruto amazônico símbolo do Pará, vem ganhando cada vez mais espaço nas terras cearenses. O que antes era restrito ao Norte do país, hoje movimenta um mercado crescente no Nordeste — e produtores do Ceará não apenas estão de olho nesse cenário, como também já iniciaram plantações próprias para garantir autonomia e suprir a demanda local e internacional.
>>>Clique aqui para seguir o canal do GCMAIS no WhatsApp<<<
Quem consome o açaí gelado nas tigelas coloridas espalhadas pelo Ceará nem sempre imagina a longa jornada do fruto: ele é colhido por ribeirinhos no Pará, processado em polpa e enviado em toneladas até chegar à indústria cearense. É o caso do empresário Matheus Silva, que viu seu negócio se transformar de uma pequena operação doméstica para uma indústria com sete lojas e ambições de exportação.
“A gente começou com uma lojinha lá no bairro de Riquijóis, onde a gente batia na cozinha de casa, num liquidificador industrial, e levava pra loja pra vender todo dia. Batia de madrugada e vendia durante o dia”, relembra Matheus. “Aí a gente mudou, teve que mudar essa loja pequenininha, mudamos pra uma maior, que hoje tá lá até hoje, lá no Jockey Club. E hoje estamos aqui. Hoje já são sete lojas, essa indústria própria, e crescendo cada vez mais.”
Na fábrica, o açaí é processado com polpa vinda diretamente do Pará. Segundo Matheus, são cerca de 30 toneladas por mês — número que dobra nos meses mais quentes, entre o segundo semestre e o início do verão.
“A gente bate lá a polpa, somente com açúcar e glucose de milho. Esse açaí, terminando de bater, ele vem para cá, para as máquinas produtoras. Aqui é onde vai ser feito o congelamento do sorvete. E aqui o açaí nada mais é do que um sorvete, é um sorvete natural da fruta. Daqui ele vai direto para a câmara fria para ele atingir temperatura de menos 20 graus. Atingindo temperatura de menos 20, ele vai para a câmara de estoque e armazenagem que é de lá que vai sair para a expedição para as lojas e para todo o Ceará.”
>>>Siga o GCMAIS no Google Notícias<<<
Raízes no Ceará
Com o sucesso do negócio, Matheus começou a investir também no cultivo local da fruta. A ideia é reduzir a dependência da produção paraense — que já apresenta sinais de esgotamento frente à crescente demanda — e garantir um produto de qualidade feito em solo cearense.
“Hoje a nossa ideia é essa, é produzir, é plantar tudo o que a gente consome durante o ano aqui na nossa fábrica”, afirma. “A gente já está negociando um terreno aqui, no quarto Nelviário, para fazer lá. A gente fez um estudo lá, que vai caber, em média, 50 mil pés de açaí, tamanho do terreno.”
Atualmente, o empresário mantém 5 mil mudas em Caucaia e investe em uma produção em expansão em Paracuru, com capacidade para até 20 mil pés.
Mercado internacional
O açaí cearense também já atravessa fronteiras. Só em julho deste ano, Matheus embarcou quatro contêineres — com 22 toneladas cada — para a Alemanha. O Japão já demonstrou interesse, e os Estados Unidos seguem como o maior mercado internacional.
“Eu estou no melhor estado, porque é um estado que está crescendo, a exportação está crescendo e a gente tem um porto”, destaca Matheus. “Apesar do tarifaço, o açaí ainda não sofreu impacto, porque só tem aqui no Brasil.”
Qualidade em disputa
Outro nome forte no setor é o empresário Afonso Rocha, que também trabalha com açaí processado no Ceará, utilizando 100% da polpa vinda do Pará. Apesar disso, ele acredita que o cultivo local tem potencial para equiparar a qualidade da fruta amazônica.
“Se você pegar um teste às cegas, pega um açaí de Paracuru, pega um açaí do Pará, a pessoa não consegue ver a diferença. Está sendo feito um trabalho muito bacana, cuidado do solo, adubação, irrigamento, então é um açaí que não deixa a desejar para o estado do Pará.”
Mas, para ele, a escassez recente na produção paraense tem sido um alerta para o setor.
“Tem gerado uma complicação até para o próprio paraense, né? Porque até um pouco diferente da gente aqui, o açaí lá no Pará é o feijão com arroz deles, então todo mundo lá come açaí e sentiram bastante nessa safra passada, que foi uma safra que a gente teve um aumento no preço do açaí de praticamente 70% em relação à safra anterior. Esse ano, infelizmente, a safra está começando agora no Pará, eu não espero uma coisa muito diferente disso.”
Um novo ciclo para o açaí
Com os olhos voltados para o futuro, o Ceará entra na rota de produção do açaí brasileiro, não mais apenas como consumidor ou beneficiador, mas como possível produtor de destaque. A movimentação no setor mostra que a fruta amazônica pode, sim, fincar raízes em novos solos — e ir ainda mais longe, do Pará ao mundo, com uma parada estratégica no Nordeste.
Leia também | Maior encontro do setor leiteiro do Nordeste será realizado em Quixadá em setembro
>>Acompanhe o GCMAIS no YouTube<<<
Fonte: gcmais.com.br