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No mês da prevenção ao suicídio, usuários denunciam precariedade nos Caps de Fortaleza

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No mês da prevenção ao suicídio, usuários denunciam precariedade nos Caps de Fortaleza

No mês de setembro, quando se intensificam os debates sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, o Jornal da Cidade percorreu Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da capital cearense para entender a realidade dos serviços oferecidos à população. Fortaleza, com mais de 2,5 milhões de habitantes, possui atualmente 16 Caps, sendo apenas seis voltados para atendimento adulto. Em meio a reformas, ampliação de equipes e novas promessas do poder público, pacientes ainda enfrentam longas filas, escassez de profissionais e denúncias graves sobre a dificuldade de acesso.

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No Caps Jardim América, um dos usuários do serviço, Luiz Gonzaga Salvino, beneficiário do BPC (Benefício de Prestação Continuada), relatou que a situação melhorou recentemente, mas já foi bastante crítica: “Meses atrás nós não tínhamos psiquiatra, não tínhamos psicólogos, os medicamentos faltavam, mas graças a Deus, com a ajuda de Deus do céu e as doutoras, nós conseguimos recuperar todo o tempo perdido e os pacientes estão bem satisfeitos.”

No Caps do bairro Rodolfo Teófilo, Lucineide Feitosa, aposentada, segue aguardando vaga para acompanhamento psicológico, enquanto a consulta com o psiquiatra ocorre apenas a cada três meses:  “É muita demanda, é muita gente procurando, então a gente acaba ficando na lista de espera por não ter vaga.”

No Bom Jardim, onde muitos buscaram atendimento na última quarta-feira (10), a dona de casa Luisa Martins voltou para casa sem conseguir ser atendida: “Me informaram que estava tendo uma campanha. E eu não sei onde é que está essa campanha. Mas eu estou voltando para casa sem o atendimento.”

A dificuldade começa antes mesmo do sol nascer. Priscilla Silva, desempregada, conta que para tentar atendimento precisa chegar de madrugada: “Para eu poder conseguir para o psiquiatra, eu tenho que chegar às três horas da manhã.”

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Mesmo com esse esforço, ela não conseguiu ser atendida. Segundo Priscilla, há venda de lugares na fila por pessoas que chegam cedo e cobram para garantir a vaga: “Eu ia ser a sétima, oito fichas só por dia, quatro de manhã e quatro à tarde. Não consegui porque pessoas estão vendendo lugares, tinha três bancos na frente… Aí nós que chegamos três e meia, ficamos sempre para trás.”

Ela ainda relatou que a confusão gerada pela prática de venda de lugares chegou a gerar brigas: “Depois que estava perto do guarda chegar, aí ela foi, veio, pegou os banquinhos, deixou o pessoal em pé e foi-se embora com os banquinhos dela. […] E lá dentro uma mulher teve coragem de falar, foi uma confusão medonha.”

Prefeitura promete melhorias e diz ter ampliado quadro de profissionais

No início de setembro, 178 novos profissionais foram empossados pela Prefeitura para atuar na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), o que representa, segundo o prefeito Evandro Leitão, um avanço importante: “Nós acabamos de convocar, de dar posse e convocamos, já estão trabalhando 260 profissionais, dos 260, 170 assumiram. […] Estamos reformando todos os 16 Caps de Fortaleza para que a gente possa estar ofertando melhores condições, tanto para os profissionais, como também para a população fortalezense.”

Associação de Psiquiatria alerta para subdimensionamento da rede

Apesar do reforço recente, a rede continua insuficiente, de acordo com o presidente da Associação de Psiquiatria do Ceará, Fábio Gomes de Matos. Ele aponta que o número de unidades é incompatível com a demanda da cidade: “Nós temos seis CAPES adultos aqui na cidade de Fortaleza. Pensando na cidade de Fortaleza como uma cidade de 2 milhões e 400 mil pessoas, é uma conta de matemática simples. Você divide 2 milhões e 400 por 6, dá 400 mil pessoas por CAPES. Qual é o CAPES que vai atender 400 mil pessoas? Não tem essa condição.”

Para ele, o ideal seria descentralizar o atendimento utilizando toda a rede de saúde municipal: “Simplesmente o posto que já está lá, colocar um psiquiatra e um psicólogo, sai mais barato e é muito melhor para a população […] vai conhecer toda uma estrutura, um contexto social que no caso não é possível fazer isso.”

A Secretaria Municipal da Saúde afirma que todos os Caps de Fortaleza contam com psiquiatras e psicólogos, e que os atendimentos são gratuitos. Informa também que 178 novos profissionais foram incorporados recentemente à Rede de Atenção Psicossocial. A Prefeitura iniciou a reforma dos 24 equipamentos de saúde mental e anunciou a construção de um novo Caps Infantil.

Confira a nota na íntegra 

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que todos os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) citados contam com médicos psiquiatras e psicólogos. Os serviços são gratuitos, não procedendo a informação de cobranças realizadas pelo poder público.

A prefeitura empossou, no último mês, 178 novos servidores destinados à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), representando um acréscimo de 25,2% no quadro de profissionais da área. Além da contratação, a Prefeitura deu início ao cronograma de reforma dos 24 equipamentos voltados à saúde mental, incluindo os 16 CAPS. Também está prevista a construção de um novo CAPS Infantil.

Nesta quarta-feira (10/09), o CAPS Geral do bairro Jardim América contou com 17 profissionais, incluindo psiquiatras, e realizou, ao todo, 146 atendimentos. Na mesma data, o CAPS Geral do bairro Bom Jardim atendeu por meio de uma equipe de 26 profissionais, entre eles dois médicos e sete psicólogos. Já o CAPS Geral do bairro Rodolfo Teófilo realiza atendimentos diários com uma equipe multiprofissional composta por quatro psiquiatras e seis psicólogos.

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Fonte: gcmais.com.br