O Comitê de Prevenção e Combate à Violência da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), que acompanha a evolução das ocorrências da segurança pública do estado, considera que o que se vive hoje é uma “epidemia de violência armada”. A análise se dá em um contexto de uma sequência de casos de famílias expulsas de casa, homicídios e outros casos.
Para o sociólogo Thiago de Holanda, integrante do comitê, a lógica das expulsões segue um padrão de controle territorial. Ele explica que, quando um grupo criminoso chega em um território para dominá-lo, ele faz um levantamento das pessoas que moram lá e acabam expulsando vários moradores – que não necessariamente têm envolvimento direto com a criminalidade. “Isso tem acontecido de forma regular principalmente nos conjuntos habitacionais, os residenciais, em que pessoas de vários lugares da cidade são colocadas para conviver artificialmente, numa comunidade”, conta.
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Pelo menos 350 famílias foram expulsas de casa por facções criminosas no Ceará nos últimos quatro meses, segundo levantamento apresentado pelo Comitê de Prevenção e Combate à Violência da Assembleia Legislativa. As ações, descritas como arbitrárias, têm deixado um rastro de medo e insegurança tanto entre quem é obrigado a sair quanto entre os que permanecem nos bairros.
Um dos locais mais recentes a registrar expulsões foi o Conjunto Tupinambá da Frota, no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza. Um vigilante precisou deixar o imóvel às pressas com a família após a ordem ser pichada no muro de casa. Desde então, o cenário é de abandono.
Casos semelhantes se repetem em outras regiões do estado. Em junho, moradores do bairro Vicente Pizón, em Fortaleza, foram expulsos em meio a uma disputa entre facções criminosas. No mês seguinte, 300 famílias foram obrigadas a deixar uma comunidade em Morada Nova, e, em agosto, moradores de Maranguape contaram com apoio da polícia para sair de casa após ameaças.
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Em setembro, mais de 30 pessoas foram desabrigadas à força no Jacarezal, em Pacatuba, episódio que ocorreu logo depois do assassinato de um homem na área. Já em outubro, moradores de um condomínio no bairro José de Alencar, na Capital, receberam ameaças de morte com placas de carros de moradores identificadas nas mensagens.
A escalada da violência, conforme o comitê, atinge níveis epidêmicos. “O Ceará vive uma epidemia de violência armada”, define Thiago de Holanda. “A Organização Mundial de Saúde compreende que 10 homicídios por 100 mil habitantes é uma epidemia. A gente tem aqui cidades no Ceará que é 37 por 100 mil habitantes e algumas passam de 100 por 100 mil habitantes”, pontua.
O sociólogo explica que o problema se intensificou nos últimos 10 anos, com a chegada de grupos armados de outras regiões do país e a criação de facções locais.
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“A gente tem mais arma de fogo circulando, arma de fogo e munição. É um comércio que gera muito dinheiro e circula muito, e que traz questões muito graves: tiroteios, pessoas que não podem atravessar limites territoriais, pessoas que desaparecem forçadamente, são expulsas de casa, os homicídios aumentam…”
De acordo com ele, a resposta do Estado, baseada em maior presença policial e confrontos, tem ampliado o clima de medo.
O Comitê da Assembleia reforça que o cenário atual exige políticas de prevenção e redução da violência armada, diante de uma realidade que, nas palavras de seus integrantes, já ultrapassa os limites da segurança pública e se aproxima de uma crise humanitária.
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Fonte: gcmais.com.br