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Morre, aos 101 anos, o ex-deputado cearense Amadeu Arrais, último cassado pela ditadura militar ainda vivo

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Morre, aos 101 anos, o ex-deputado cearense Amadeu Arrais, último cassado pela ditadura militar ainda vivo

 

Morreu neste domingo (7) o ex-deputado cearense Amadeu Arrais, aos 101 anos. Último parlamentar cearense cassado pela ditadura militar ainda vivo, ele dedicou décadas de sua vida ao serviço público, à docência e à defesa dos direitos sociais.

O velório acontece no Plenário 13 de Maio, na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), desde as 11 horas. Às 17 horas, será realizada uma missa, com encerramento previsto para as 18 horas.

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Natural de Campos Sales, a 460 quilômetros de Fortaleza, Amadeu atuou como professor de francês no Liceu do Ceará, integrou a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e foi secretário do Instituto de Pesos e Medidas do Ceará (Ipem). Filiado ao Partido Democrata Cristão (PDC), cumpriu duas legislaturas na Alece antes de ter o mandato cassado em 10 de abril de 1964, sob acusação de quebra de decoro parlamentar durante a implantação do regime militar.

A cassação o levou à prisão no 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, onde permaneceu detido por cerca de nove meses ao lado de outros seis parlamentares perseguidos politicamente.

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“Eu me senti esmagado, porque é a força contra o direito. Eles tinham maioria e escolheram quem seria cassado. Entre eles, estava o meu nome”, afirmou.

Mesmo sem sofrer tortura física, relatou ter enfrentado forte pressão psicológica.

“Nós combinamos de fazer a limpeza das nossas instalações porque assim podíamos conversar sem soldados por perto. A gente não podia conversar, não podia expandir nossas lágrimas nem queixas”, contou.

Trajetória marcada pela educação e pelo trabalho

Filho de Eneas de Araújo Arrais, que governou Campos Sales por três mandatos, Amadeu sempre destacou sua ligação com a defesa dos mais vulneráveis. Formado em Direito e em Filosofia, Ciências e Letras, fundou em 1950 um cursinho preparatório para o Liceu do Ceará, onde conheceu jovens que mais tarde se tornariam figuras históricas, como Bergson Gurjão, morto na Guerrilha do Araguaia, e Tito de Alencar, frade dominicano torturado pela ditadura.

Atuou também na Delegacia Regional do Trabalho, conquistando respeito do movimento sindical. Em 1962, foi eleito deputado estadual.

“Quando fiz meu discurso de posse, disse: ‘Estou aqui para cumprir a lei. Não esperem os patrões que eu vá perseguir empregado, nem os empregados que eu vá perseguir patrão’”, relembrou.

Após ser liberado da prisão, Amadeu foi impedido de exercer a advocacia e o cargo de fiscal do Trabalho, retornando à docência. Mais tarde, fundou o tradicional Colégio Brasil, na rua Dona Leopoldina, em Fortaleza.

A anistia política veio em 1979. No ano seguinte, ele reassumiu seu posto na DRT e, em 1982, voltou à Assembleia como suplente, chegando a ocupar cadeira por quatro meses em 1984. Anos depois, voltou à direção do Ipem.

Reconhecimento e últimos anos

No dia 3 de dezembro de 2024, no ano em que completou 100 anos, Amadeu Arrais recebeu a Medalha de Mérito Parlamentar, a mais alta comenda da Assembleia Legislativa, em reconhecimento à sua trajetória e como gesto de reparação histórica.

Nos últimos anos, vivia em um sítio em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Também mantinha um santuário no distrito de São Domingos, em Caridade, como forma de agradecimento a São Pedro por ter sobrevivido aos chamados “anos de chumbo”.

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Fonte: gcmais.com.br