A arquiteta, artista e paisagista Nícia Paes Bormann, fundadora do curso de Paisagismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi a entrevistada do programa Conexões, da Rádio Jovem Pan News Fortaleza, nesta segunda-feira (10), durante o mês dedicado às mulheres. Com uma carreira marcada pelo pioneirismo, ela compartilhou detalhes da trajetória e as influências que a consolidaram como referência na área.
Natural do Rio de Janeiro, nascida em 1940, filha de pai cearense e mãe paranaense, Nícia Paes Bormann formou-se em Arquitetura e Urbanismo na então Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante a juventude, morou no Sul do país, mas sempre manteve vínculos com o Ceará, para onde se mudou após concluir a graduação.
A paixão pelo desenho a aproximou da arquitetura, mas a escolha pela profissão ocorreu após um episódio familiar. “Escolhi inicialmente Engenharia, pois sempre fui ligada às exatas. Mas meu pai disse: ‘Mulher em canteiro de obra, nem pensar’. Assim, acabei migrando para Arquitetura”, relembra.
Durante a formação, Nícia teve a oportunidade de estagiar com o renomado paisagista Roberto Burle Marx. “Fomos procurar estágio sem saber exatamente onde estávamos indo. Descobrimos que se tratava do escritório de Burle Marx e fomos admitidas”, conta. A experiência foi crucial para seu encantamento pelo paisagismo. “Lembro que trabalhávamos no projeto do Aterro do Flamengo. Burle Marx nos dava liberdade para pequenas intervenções, e isso foi muito enriquecedor”, afirma.
Nos anos 1960, ao lado do marido, o arquiteto Guerty Bormann, Nícia chegou a Fortaleza para lecionar na UFC. “Cheguei e encontrei uma demanda represada. Os alunos eram experientes, já trabalhavam em escritórios. Precisei me impor como professora”, recorda. Foi nesse cenário que ela implementou a disciplina de Paisagismo, uma novidade no currículo da universidade. “Para isso, estudei botânica, ecologia, geografia e geologia. Queria oferecer uma base sólida”, explica.
Sobre a cidade ideal, Nícia enfatiza a importância de um urbanismo mais planejado. “Uma cidade com calçadas largas, arborização adequada e espaços públicos bem planejados”, afirma. Para ela, Fortaleza pode avançar em direção a um urbanismo mais sustentável, desde que haja um planejamento sério e continuidade nas gestões.