Um estudo realizado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com o Instituto de Ciências do Mar (Labomar), revelou um grave alerta ambiental e de saúde pública: peixes do Rio Poti, no município de Crateús, estão contaminados por poluentes que podem causar câncer e outras doenças graves em humanos. A pesquisa foi conduzida por meio do Núcleo Integrado de Pesquisa e Inovação (NIPI) da UFC de Crateús e envolveu análises laboratoriais de espécies consumidas pela população local.
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Segundo os resultados, 22% dos peixes coletados apresentaram níveis inaceitáveis de risco de câncer (RC), de acordo com parâmetros da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA). O estudo demonstrou que a ingestão de apenas 150 gramas por dia de filé contaminado pode representar sérios riscos à saúde. Além de substâncias com potencial cancerígeno, foram detectados contaminantes associados a distúrbios neurológicos e hormonais nos músculos dos animais.
As espécies com maiores índices de contaminação incluem branquinha, curimatã, piranha, tucunaré, piau, bodó e cangati — sendo estas três últimas as que apresentaram os maiores níveis de risco. A coleta dos dados foi motivada por relatos de moradores do distrito de Ibiapaba, que notaram deformações nos peixes, como olhos inflamados e saltados. O estudo teve início em agosto de 2024 e os resultados compuseram o trabalho de conclusão de curso da engenheira ambiental Ana Clara Rosendo Sousa, natural de Crateús.
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A coordenadora do estudo, professora Janaina Lopes Leitinho, destaca que, embora o risco seja alto, a alimentação não pode ser considerada como único fator para o desenvolvimento de câncer. A doença é multifatorial, e o consumo de peixes contaminados é apenas uma das possíveis fontes de exposição. Ainda assim, ela alerta para o risco real à saúde das comunidades que dependem do rio como fonte de alimentação, principalmente durante o período seco.
As amostras analisadas foram coletadas em dois pontos: nos distritos de Ibiapaba e Oiticica, ambos cortados pelo Rio Poti. A região de Ibiapaba, localizada fora da Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão do Poti, apresentou os maiores níveis de poluição. Já Oiticica, que está dentro da APA, teve índices menores, o que indica que a presença de áreas preservadas pode contribuir para a redução da contaminação.
De acordo com o estudo, a maior urbanização de Ibiapaba, somada à prática agrícola intensiva e ao uso excessivo de agrotóxicos, contribui diretamente para a contaminação dos recursos hídricos. A agricultura de subsistência, pressionada por secas frequentes, incentiva o uso indiscriminado de pesticidas, queimadas e o cultivo próximo às margens do rio — ações que comprometem ainda mais o ecossistema aquático.
A pesquisadora Janaina destaca que o problema é agravado pela diminuição do fluxo do rio, que durante a seca forma lagoas isoladas, servindo de habitat e única fonte de alimentação para muitas famílias. “Esses peixes viram a salvação alimentar das comunidades, mas quando contaminados, representam um risco silencioso e perigoso”, afirma. Segundo ela, não é possível identificar visualmente quais peixes estão contaminados, o que aumenta o perigo da ingestão.
O estudo reforça a urgência de ações públicas para conter a contaminação do Rio Poti, preservar as áreas de proteção e orientar a população local sobre os riscos do consumo de peixes potencialmente tóxicos. A pesquisa também chama atenção para a necessidade de políticas de incentivo à agricultura sustentável, fiscalização ambiental e investimentos em saneamento básico para proteger os recursos naturais da região e a saúde da população.
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Fonte: gcmais.com.br