Início » Blog » Moradores de Maranguape/CE relatam escalada da violência, com homicídios e expulsões
Ceará

Moradores de Maranguape/CE relatam escalada da violência, com homicídios e expulsões

moradores-de-maranguape/ce-relatam-escalada-da-violencia,-com-homicidios-e-expulsoes
Moradores de Maranguape/CE relatam escalada da violência, com homicídios e expulsões

A tranquilidade que por muitos anos marcou a rotina do município de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), tem sido substituída por um cenário de medo e violência. O relatório técnico do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) da Polícia Civil do Estado do Ceará(PCCE) apontou o município como um dos que mais registram casos de expulsão de moradores no estado, ficando atrás apenas de Fortaleza. Além das expulsões, a cidade tem enfrentado uma sequência de homicídios e disputas entre facções criminosas, que vêm alterando profundamente o cotidiano dos moradores.

O último assassinato ocorreu ainda esta semana. Um homem de 27 anos foi baleado e morreu no Centro da cidade. No local do crime, ainda é possível ver marcas de sangue no chão. A Polícia confirmou a prisão de um adulto e a apreensão de um adolescente suspeito de ter praticado o crime.

Somente no mês passado, oito pessoas foram assassinadas em Maranguape. Entre as vítimas, estava um jovem entregador, que teria sido morto por se envolver com a ex-namorada de um traficante. Em setembro, o número foi ainda maior: 10 homicídios.

>>>Clique aqui para seguir o canal do GCMAIS no WhatsApp<<<

A violência crescente tem deixado os moradores assustados. Muitos evitam até mesmo sair de casa. Um homem, que preferiu não se identificar, resumiu à TV Cidade Fortaleza o sentimento: “Maranguape aqui tá uma cidade muito perigosa. O crime está tomando de conta a cidade de Maranguape, que está numa situação difícil, só as mãos de Deus mesmo.”

O medo mudou os hábitos da população. Uma moradora, também sem identificação, contou como tenta se proteger: “Procurar ficar um pouco em casa, sair só para o trabalho mesmo, porque é o melhor que a gente faz, estar em casa. Tem que sair porque a gente precisa trabalhar, mas não está muito boa a situação aqui em Maranguape.”

Além das mortes, outro fenômeno grave tem se expandido: as expulsões de famílias inteiras de suas casas por organizações criminosas. Em uma vila próxima ao Centro, todas as residências estão vazias. Segundo as autoridades, os antigos moradores foram obrigados a sair após uma disputa por território entre facções. O relatório do Departamento de Repressão ao Crime Organizado mostra que Maranguape soma 19 casos de expulsão – 11 deles apenas no bairro Novo Maranguape. As demais ocorrências se espalham pelos bairros Gavião, Maranguape II, Outra Banda e Parque São João.

>>>Siga o GCMAIS no Google Notícias<<<

O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), Artur Pires, explica como as facções agem: “Quando domina e conquista um território rival, ele obrigatoriamente vai fazer um mapeamento daquele território recém-conquistado para identificar as redes de parentesco, de vizinhança e de amizade que tinham relação com os faccionados anteriores. Ao identificar essas redes, eles vão ameaçar essas pessoas e, posteriormente, vão expulsá-las daquele território.”

A insegurança atinge também áreas mais afastadas, como o entorno do Açude São João do Amanari, local turístico frequentado por moradores e visitantes nos fins de semana. Quando há confrontos entre facções, o movimento na região diminui, e é comum ver placas ordenando que motoristas baixem os vidros dos carros ou tirem o capacete.

Artur Pires destaca que o problema é antigo e ainda sem solução efetiva. “A gente está falando de um fenômeno que já tem por volta de uma década no estado do Ceará. E no momento a gente percebe que a polícia e os órgãos policiais como um todo, a estrutura de segurança pública do estado do Ceará se mostra até o momento ineficiente para conter o avanço desse fenômeno”, pontua.

>>>Acompanhe o GCMAIS no YouTube<<<

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que, entre agosto e outubro, 33 suspeitos envolvidos em expulsões de moradores foram presos e que há atualmente 21 investigações em andamento. O órgão afirmou ainda que a Polícia Militar monitora e mapeia as residências afetadas para evitar que sejam revendidas ou ocupadas de forma irregular.

O secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, reconheceu a gravidade da situação e afirmou que o objetivo é garantir a presença constante do Estado nas áreas afetadas. “Há situações em que uma família quer sair e pede uma garantia de segurança, mas não vamos negar que a gente possa fazer essa proteção a essa pessoa, mas a nossa posição clara é de buscar ocupar esses territórios com a força policial, com programas sociais. Nós localizamos essas localidades, vamos ter iniciativas concretas para cada comunidade dessa. Tivemos atividade inclusive em Fortaleza, vamos ter atividades no interior do Ceará, mas eu não quero que a polícia vá e saia, eu quero que a polícia vá e fique.”

Leia também | Homem é espancado em casa e expulso de bairro em Fortaleza após briga com vizinho

Fonte: gcmais.com.br