O Instituto Sérvulo Esmeraldo denunciou a derrubada do Muro Cinético, obra criada em 1978 pelo artista cearense Sérvulo Esmeraldo, instalada no Centro Administrativo Bárbara de Alencar (Caba), em Fortaleza. Medindo 42 metros de comprimento e marcada por características cinéticas típicas do escultor, a estrutura permaneceu de pé por mais de quatro décadas até ser substituída por um gradil metálico. Em entrevista exclusiva ao Portal GCMais, Dodora Guimarães, presidente do Instituto, curadora e viúva do artista, afirmou que o caso trata-se de uma perda irreparável para o patrimônio cultural do Ceará.
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Dodora relembra que o Instituto tem como missão não apenas zelar pelo acervo de Sérvulo, mas promover ações de valorização da arte contemporânea. Segundo ela, “a questão da arte pública… é um patrimônio que hoje nós temos no Estado do Ceará, representado em cerca de 37 obras públicas ou integradas à arquitetura”. A curadora afirma que muitas delas carecem urgentemente de conservação: “infelizmente, quase todas essas obras precisam de uma conservação, e muitas de um restauro responsável”.
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A obra demolida fazia parte de um dossiê apresentado à Secretaria da Cultura do Estado em dezembro de 2023, solicitando o tombamento de 37 trabalhos remanescentes do artista. “Porque 37 são as que restam em pé… que ainda podem ser salvaguardadas”, explicou. O Muro Cinético, portanto, estava formalmente incluído na instrução de tombamento quando foi derrubado.
Em tom de indignação, Dodora classifica a ação como “criminosamente posta abaixo pelo governo do Estado” por meio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Segundo ela, embora o muro estivesse degradado pela falta de manutenção ao longo dos anos, “não a ponto de ser colocado abaixo, como foi feito pela PGE”. A demolição, afirma, contraria o dever público de preservação do patrimônio cultural.
A presidente do Instituto ressalta a relevância artística de Sérvulo Esmeraldo, que viveu 22 anos na França e possui obras em acervos nacionais e internacionais. “Foi uma atitude irresponsável e de grande perda para o patrimônio público… É desta maneira desrespeitado por quem deveria preservar sua memória”, criticou. O Instituto cobra a reconstrução do Muro Cinético e lamenta o descaso com as obras públicas do artista.
Nota da PGE sobre a demolição
Foto: Reprodução
Em nota, a Procuradoria-Geral do Estado informou que a Superintendência de Obras Públicas (SOP) identificou risco de desabamento na estrutura do muro, o que colocaria em perigo usuários do Caba e pedestres. A PGE afirma que consultou órgãos competentes, incluindo a Secretaria da Cultura, e que “não foi identificado tombamento, tampouco que o muro, na situação em que se encontrava, constituía obra de arte”. A decisão teria sido motivada pela urgência da intervenção e resultou na instalação de um gradil metálico. A PGE reafirmou “o absoluto respeito ao patrimônio cultural do Estado”.
A resposta de Dodora Guimarães
Para Dodora, as justificativas apresentadas pela PGE são insuficientes e imprecisas. Ela afirma que a alegação de risco não elimina a obrigação do Estado de preservar o bem: “Um muro que estava lá há 47 anos, se não tem conservação, corre esse risco mesmo. Mas qual era o papel de um órgão público? Zelar pela vida deste patrimônio”. A curadora ressalta que o Instituto era a instância adequada para orientar tecnicamente qualquer intervenção.
Ao contestar a afirmação de que a obra não possuía tombamento, Dodora afirma que isso é uma “meia verdade”. Ela explica que o pedido de tombamento, protocolado em 5 de dezembro de 2023, já submetia as 37 obras à tramitação de proteção. Segundo cita, especialistas como o professor Romeu Duarte confirmam que, uma vez iniciada a instrução, as obras devem ser tratadas como patrimônio até decisão final.
Quanto à declaração de que o muro não constituía obra de arte, Dodora reagiu com veemência: “É piada de mau gosto, porque uma obra de arte não deixa de ser uma obra de arte, mesmo que ela tenha ido até o chão”. Para ela, o ato da demolição apagou fisicamente, mas não simbolicamente, o legado ali existente: “Ficará sempre na nossa memória que uma obra de arte existiu ali. Ali foi derrubada uma obra de arte”.
A situação reacende o debate sobre políticas de preservação e o papel do Estado na manutenção do patrimônio artístico, especialmente aquele integrado ao espaço urbano. Para Dodora Guimarães, fortalecer esses mecanismos é urgente para impedir que novas perdas ocorram.
Com a demolição do Muro Cinético, o Instituto Sérvulo Esmeraldo reforça seu apelo para que o governo do Ceará assuma responsabilidade e reconstrua a obra, honrando o legado de um dos mais importantes artistas cearenses do século XX.
Leia na íntegra a nota da PGE
Esclarece-se que foram realizadas, pela Superintendência de Obras Públicas (SOP), intervenções relativas à estrutura do muro do Centro Administrativo Bárbara de Alencar (CABA). Avaliação técnica reconheceu o comprometimento da estrutura e o risco de desabamento, representando perigo aos usuários da unidade administrativa, bem como aos pedestres que transitam nas calçadas da instituição. Antes da intervenção, a SOP inclusive cientificou a PGE-CE da condição acima, alertando para a necessidade de providências. Ressalta-se que anteriormente à realização das obras foram consultados órgãos e profissionais competentes, dentre eles a Secretaria Estadual da Cultura (Secult), para tratar da questão artística e cultural. Não foi, no entanto, identificado tombamento, tampouco que o muro, na situação em que se encontrava, construía obra de arte. Considerada a urgência no reparo, em atenção ao bem-estar das pessoas e ao adequado cuidado com os espaços institucionais, a SOP orientou e conduziu a instalação de um gradil metálico no entorno do Centro Administrativo. Reafirma-se, por fim, o absoluto respeito ao patrimônio cultural do Estado.
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Fonte: gcmais.com.br











