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Cinco anos da pandemia de Covid-19 no Ceará: o legado da maior crise sanitária do século

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Cinco anos da pandemia de Covid-19 no Ceará: o legado da maior crise sanitária do século

No dia 15 de março de 2020, há exatos cinco anos, a pandemia de Covid-19 chegava ao Ceará. Os três primeiros casos do novo coronavírus foram identificados pela Secretaria Estadual da Saúde numa noite de domingo. Os primeiros pacientes infectados no estado haviam viajado recentemente ao exterior. Os três, dois homens e uma mulher, eram de Fortaleza.

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Quatro dias depois, numa quinta-feira, 19 de março, entrava em vigor o primeiro decreto de isolamento social no estado. A decisão foi tomada após reunião do Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia do Coronavírus, que reunia 25 entidades. Na ocasião, o então governador Camilo Santana (PT) decretou estado de emergência e anunciou ações para combater o avanço da doença.

Entre as principais medidas preventivas do comitê, o governador informou, via decreto oficial, que estavam suspensos quaisquer eventos públicos no Ceará acima de 100 pessoas, atividades em escolas e universidades públicas, estaduais e municipais de Fortaleza, além de recomendar que as escolas particulares fizessem o mesmo. Voos internacionais para o Ceará também foram suspensos. A Secretaria da Saúde (SESA) tinha confirmado 9 casos da doença até o dia 19: eram 8 em Fortaleza e 1 em Aquiraz, na Região Metropolitana.

Foto: Alysson Pontes/GCC

Cinco anos da pandemia no Ceará

Hoje, o estado acumula 1.536.345 casos, com 28.215 mortes, conforme o Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde. Sem vacinas e com pouco conhecimento sobre a transmissão do vírus, o sistema de saúde do Ceará precisou se adaptar rapidamente. O estado ampliou a rede hospitalar, investiu na capacitação de profissionais e adotou medidas emergenciais para garantir atendimento adequado às vítimas da COVID-19. Entre as estratégias, destacam-se a suspensão de atendimentos eletivos para priorizar leitos de UTI e a rápida ativação do Hospital Leonardo da Vinci.

“Uma das medidas que tomamos para evitar o colapso foi suspender os atendimentos eletivos bem antes do pico da pandemia, garantindo mais leitos disponíveis”, explica o ex-secretário de Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins (Dr. Cabeto).

Capacete Elmo

Durante a pandemia, uma das inovações relevantes no estado do Ceará foi o desenvolvimento do capacete de respiração assistida Elmo, criado pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) e também por meio de parceria público-privada, envolvendo diversas instituições. O dispositivo ajudou a salvar a vida de milhares de pacientes com a doença no estado e também em diversas unidades federativas.

Conforme a ESP, estima-se que mais de 10 mil pessoas foram auxiliadas pela inovação. Estudos apontam que o Elmo pode reduzir em 60% a necessidade de internação em UTI. Além do desenvolvimento do equipamento, a instituição também capacitou profissionais de saúde a manejarem o capacete, por meio de treinamentos conduzidos pelo Centro de Simulação em Saúde (CSS) da ESP. Foram contemplados quase 3 mil participantes do Ceará e também de outros estados, com destaque para Amazonas e Maranhão.

“Foram nove protótipos desenvolvidos em três meses. Testamos em pacientes e os resultados foram muito positivos, com 60% de melhora significativa”, revela Marcelo Alcântara, pneumologista e idealizador do equipamento. Atualmente, o capacete Elmo continua em uso para outras condições respiratórias, consolidando-se como um legado da pandemia. “Sem dúvida, é um legado da pandemia. Antes, não tínhamos essa interface no Brasil e agora ela está disponível”, acrescenta.

Foto: Governo do Estado

Vacinação em massa

A esperança veio com a vacinação. Em janeiro de 2021, as primeiras doses do imunizante foram aplicadas no Brasil. O avanço da imunização permitiu a redução dos casos graves e a gradativa retomada da normalidade. Desde então, a vacina contra a Covid-19 foi incluída no Calendário Nacional de Imunização, reforçando a importância da prevenção. “Foi uma conquista da ciência. Conseguimos desenvolver uma vacina segura e eficaz em um tempo recorde”, destaca o secretário executivo de Vigilância em Saúde, Antônio Lima.

Apesar dos avanços, a pandemia deixou marcas profundas. Famílias perderam entes queridos, e muitos sobreviventes ainda lidam com sequelas da doença. “Minha irmã pegou Covid-19 e, até hoje, tem dificuldades para sentir cheiro”, relata o pedreiro Petrônio Nunes, um dos muitos brasileiros impactados pelo vírus. O período também evidenciou desafios estruturais na saúde pública e impactou a economia, a educação e a vida social de milhões de pessoas.

Enfrentamento à pandemia

Segundo o consultor em Infectologia da Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará (ESP-CE), Keny Colares, um marco do início da crise sanitária no Brasil foi a época em que o vírus chegou: por volta do Carnaval. A realização das festas de modo normal, avalia ele, foi um “fato marcante” e potencialmente impulsionou a disseminação do coronavírus em um primeiro momento.

O que se seguiu, segundo Keny Colares, é um total desencontro entre as gestões estaduais e municipais e o que era tocado nacionalmente, pelo governo federal.

“As medidas de isolamento social o governo federal era contra, a gente conseguiu fazer algumas coisas aqui no Nordeste, com o Consórcio Nordeste, e os governos dos estados que procuraram adotar medidas que não eram adotadas nacionalmente. Mas não é a mesma coisa”, elenca.

À época, um dos principais conflitos em questão, no cenário nacional, era entre o então presidente da República Jair Bolsonaro e os governadores, no que diz respeito à condução da crise sanitária.

Keny destaca que no Ceará, assim como em outras unidades federativas, não foram tomadas medidas que garantissem um lockdown rigoroso, que de fato contesse a disseminação da doença.

“A gente acabava tendo um lockdown meio ‘meia boca’, como a população fala. Ou seja, não parava completamente. Então o lockdown acabava não sendo tão efetivo, porque muitas vezes, se você consegue parar completamente uma cidade por 15 dias, por duas ou três semanas, você consegue dar uma freada na doença e depois você vai abrindo lentamente”, explica ele.

Um dos resultados disso era a superlotação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no complexo hospitalar. No Ceará, também houve dificuldade para lidar com o expressivo volume de internações decorrentes das infecções de covid. “Aumentar a vaga no hospital, aumentar leitos e preparar o hospital era uma parte da tarefa, mas a gente não conseguia desacelerar a situação do vírus”, assinala.

Depois de todo esse período, as medidas de isolamento não são mais consideradas necessárias pelos especialistas, mas há números consideráveis de casos de covid-19. O processo da vacinação, após ser iniciado, em 2021, foi o principal fator que levou ao controle da crise sanitária, nos meses e anos subsequentes, mas não chegou ao fim: Keny Colares aponta que hoje em dia, no Ceará, os números da cobertura vacinal são satisfatórios para as faixas etárias mais avançadas, mas seguem em baixa entre os mais jovens, principalmente adolescentes e crianças.

“Os adultos estão mais protegidos, mas a gente está vendo aumentar um pouquinho esses casos de hospitalização entre os mais jovens que não estão tão vacinados”, pontua. A vacinação para esse público, que demorou a ser realizada mais do que a dos demais grupos populacionais, acabou sendo prejudicada também pela mudança na percepção de risco da população. Sem uma crise sanitária na mesma proporção de antes, muitos pais e mães acabam deixando de vacinar os filhos, que muitas vezes ainda se infectam com o vírus.

Cinco anos depois, a covid-19 não acabou, sendo hoje parte da vida cotidiana, como a gripe ou a dengue. Há ainda o risco de novas infecções. Com isso, avalia o especialista, “é importante cuidar, proteger, se vacinar e estar atento às notícias para próximas ameaças que venham”.

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Fonte: gcmais.com.br